Publicada em 04/12/2010 às 18h42m
Simone Candida

RIO - Duas vezes por semana, a professora Olindina Mass, de 40 anos, e o marido André Emilio Sampaio Fernandes, de 39, colocam o filho de 7 anos no carro e percorrem 22 quilômetros da Vila da Penha até o Centro. Apesar de enfrentar quase duas horas de trânsito para chegar ao destino - o Centro Municipal de Atendimento à Pessoa com Deficiência (CEMA-Rio) -, a família não encara os engarrafamentos do caminho com obstáculo. Não é para menos. Desde que começou a frequentar o centro, há oito meses, o pequeno André Felipe, que é autista, deixou de tomar medicamentos, vem se tornando mais sociável e até reclama quando não é dia de "oficina". Como André, outra meia centena de crianças e adolescentes, entre 0 e 14 anos, conta com os serviços gratuitos da unidade municipal, que virou referência na área de prevenção, tratamento e reabilitação de pessoas com autismo.
- Esta reação do André, de demonstrar que gosta e sentir falta, é uma grande vitória. Como todo autista, ele tem dificuldade de socialização, mas estabeleceu uma relação afetiva com a equipe do centro. Ele adora vir para cá - conta Olindina, que também já percebe uma grande melhora na comunicação verbal do garoto e diz que André passou a suportar melhor ambientes com música depois que iniciou a musicoterapia.
Concentração em um prédio facilita vida das famílias
Ao todo, o CEMA-Rio tem quinze profissionais (entre fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacional, psicólogos, nutricionistas, professores de educação física, musicoterapeutas, assistentes sociais e cuidadores), que trabalham em conjunto num plano de desenvolvimento para cada paciente. Além da atenção diferenciada, apontam as famílias dos pacientes, a grande vantagem é que tudo é oferecido num só endereço, um prédio na Avenida Presidente Vargas, próximo da Central do Brasil. Com isso, os pais não precisam ficar se deslocando com a criança por vários pontos da cidade.
- Seguimos a linha desenvolvimentista, que aborda a criança autista como um todo, ao contrário de alguns centros, que tratam apenas os aspectos psicológico e psicanalítico. Aqui, ele passa por uma triagem, e identificamos quais ações devemos começar a realizar. Em seguida, iniciamos o tratamento. Acreditamos que é a melhor maneira de ajudar esta criança a se preparar para viver em sociedade - explica a Secretária Municipal da Pessoa com Deficiência, Isabel Cristina Pessoa Gimenez, esclarecendo que a pessoa autista tem dificuldade de imaginação, de socialização e de comunicação.
Segundo os especialistas do centro, cada criança, dependendo do grau de autismo, necessita estimular uma determinada função do aspecto sensorial, como a fala, o equilíbrio ou o paladar. Há casos em que o fonoaudiólogo, explica a especialista Tânia de Castro Soares, precisa ajudar a criança a aprender a olhar nos olhos do interlocutor na hora de um diálogo:
- Sem contar que o autista muitas vezes tem que ser formalmente ensinado sobre regras sociais. Tem que aprender a usar o "oi", o "como vai?" e o "tchau" - exemplifica.
Já a missão do nutricionista é, usando brincadeiras e jogos, ensinar a criançada a comer alimentos que, no dia a dia, elas costumam rejeitar, como frutas e hortaliças.
- Como apresentam comportamento repetitivo, muitos só querem comer um grupo de alimento, ou só alimentos de determinada cor, ou rejeitam algum por causa da consistência. O trabalho é lento, mas o desafio é fazer esta mudança de hábito, que precisa incluir família - explica o nutricionista Hugo Brás Marques.
A participação e, muitas vezes, o tratamento, da família do autista é, por sinal, uma das diferenças do serviço oferecido pelo CEMA-Rio. Atualmente, há 52 pessoas sendo atendidas e dezesseis famílias recebendo alguma tipo de auxílio ou orientação. Muito chegam ali sem saber que têm direito a um Riocard especial, por exemplo.
- Estamos atentos também ao pais e aos irmãos. Até para saber se eles apresentam algum espectro do autismo - diz a neurologista Eliana Silva, coordenadora técnica do CEMA-Rio - Os irmãos do autista sofrem bastante. Já houve crianças que apanhavam muito do irmão autista e tinham atrasos no desenvolvimento por causa disso.
Renda é um critério na triagem
Inaugurado há um ano, o Centro Municipal de Atendimento à Pessoa com Deficiência (CEMA- Rio) é um dos núcleos de atendimento da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência (SMPD). O local atende pacientes que residem no município do Rio de Janeiro e a seleção é feita a partir de uma triagem. Depois de passar por uma consulta, que irá diagnosticar de que de tratamento necessita, o menor autista começa a ser atendido pela equipe de profissionais das áreas de neurologia, psicologia, fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional, serviço social, nutrição e educação física.
No local, há salas com brinquedoteca, área de convivência, consultório de nutrição e sala de integração sensorial. As famílias dos autistas também recebem tratamento psicológico, participam de palestras e são orientadas sobre seus direitos. O serviço é gratuito, mas como a procura é grande, a renda é um dos critérios adotados para a escolha.
- No início, tínhamos capacidade para atender 40 crianças e só trabalhávamos com a faixa etária até 12 anos. Recentemente, ampliamos a faixa etário para os adolescentes e criamos mais 20 vagas. Nossa meta é, no ano que vem, passarmos para 80 vagas. A procura é muito grande, inclusive de pessoas de outros municípios, que nós, infelizmente, não temos capacidade de atender, mas ajudamos por meio de orientação ou encaminhamento para alguma outra instituição estadual, federal ou ONG - explica a Secretária Municipal da Pessoa com Deficiência, Isabel Cristina Pessoa Gimenez.
A instituição fica na Avenida Presidente Vargas 1997, Centro, próximo à Central do Brasil. Os telefones são: 2224-2160 e 2224-1300.
Mara - avó do Victor, autista, 11 anos - Brasília/DF
Membro fundador do Movimento Orgulho Autista Brasil
Conselheira de Saúde do DF - Segmento Usuários - MOAB
Comissão de Saúde Mental do Conselho
http://marafg.multiply.com/ (2005)
http://queridovictor.weblogger.terra.com.br (2004)